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Bordando o tempo e o espaço

Por uma filosofia do sensível


pretende colocar questões filosóficas a partir da costura de imagens, movimento, invenção de vibrações, rotações, turbilhões, gravitações, danças ou saltos que tocam diretamente o espaço e o tempo.



Faço filosofia como quem borda um tecido, borda para ser uma obra de arte, pois essa é a dimensão da filosofia e reduzi-la a apenas argumentos lógicos é retirar dela toda sua poesia, toda a sua dança, o seu movimento. Falando em dança, não quero apenas dançar com as palavras, já que temos uma linguagem em imagens, em conexões químicas e físicas. Uma simples brincadeira de criança pode conter a forca de toda uma tese filosófica. O que faço é filosofar com imagens, é arte, é filosofia. O que me toma primeiro são inquietações sobre o mundo, sobre o real, sobre a natureza humana, não humana, a natureza geral das coisas.


E parece que a natureza do tempo é essa, deve ser bordada, como nas fotos acima, como se o tempo, não fosse uma porção de horas, mas fosse um olhar para cada estação de modo a perceber a densidade, a beleza que ela carrega.


E o espaço, bordado centímetro a centímetro, como quem busca novos trajetos e pontua ruas e avenidas, traça novos elos entre uma ponta e outra.


Filosofar é um ato de bordar, uma costura.


E aqui, alguns podem considerar tudo isso um pouco infantil, mas não era isso que os pré-socráticos, ou mesmo os epicuristas faziam em suas conversas no jardim. Seu ato é pura poesia e colocar questões, como diria Nietzsche, é recuperar exatamente a pureza desses pensadores primordiais, gregos, mas poderiam ser árabes, asiáticos, ameríndios. Pensadores que colocavam questões como quem faz poesia e endereça uma carta ao mundo.


E isso talvez seja um bom caminho para sairmos do pesadelo moderno, que como Nietzsche aponta nasceu com Sócrates, quando nasce não somente a dúvida, mas também a negação, a ruptura. Que sem dúvida foi fundamental para a criação da ciência como a conhecemos hoje, criou o capitalismo, um novo modo politico de operar, criou um modus vivendi que não precisamos mais falar, depois que toda a pós-modernidade já criticou, como Heidegger, Deleuze, Derrida e tantos outros.


A grande questão é o que fazer agora, como filosofar diante da impossibilidade de avançar, mesmo que essa não seja a proposta da filosofia?


O tempo da crítica, do modelo hegeliano acabou, o que nos resta, como prosseguir? Afinal não é isso que faz a filosofia, perguntar ao humano, pois que é produto de matéria humana. Colocar não novas perguntas, mas novos modos de responde-las para guiar novos caminhos. Para um novo despertar.


Assim, aproveitaria o impulso que muitos pensadores, em especial dois, um sociólogo e outro antropólogo, Latour e Viveiros apontam. Latour diz que não podemos mais separar ciência e politica, e eu diria não podemos mais separar filosofia, da arte, da música, da dança, contudo, não as utilizando como ferramentas para a crítica, mas como matéria para criar conceitos.


Bordar, tecer o pensamento. Tecer esse circuito sensível, entre a minha pele e a rede da qual faço parte, mas sem precisar eliminar qualquer parte da história e dos inúmeros sistemas que já o explicaram. Buscar uma integração, a composição de uma sinfonia sintonica, onde a harmonia seja como em uma peça de Stockhausen, ou de Cage, onde os ruídos componham essa tessitura.


Uma dermatologia especulativa propõe mais do que apresentar um modelo de pensamento, pretende ser um bordado, onde tempo e espaço, continuam sendo duas abstrações necessárias, como diria Kant apenas para pensar, mas que elas são dois propósitos para criarmos novos traçados.


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